quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Cildo Meireles

Camelô, 1998
Objeto em madeira, alfinetes, barbatanas, borracha e motor
30 x 40 cm


Em 1990 queria fazer um trabalho que tivesse um milhão de unidades, do qual só tinha o título Um Milhão. Mais tarde, lembrei-me de uma imagem de três camelôs que vi quando criança, numa das vindas com meu pai do Rio de Janeiro, na calçada da rua Araújo Porto Alegre entre avenida Rio Branco e rua Mexico. Cada camelô tinha uma pequena banquinha, coberta de papel de embrulho colorido. Um vendia só alfinetes de cabeça, outro só barbatanas de plástico para colarinho de camisa social. São as coisas mais toscas em termos de produtos industriais. Na minha cabeça de criança, achava incompreensível, e ao mesmo tempo atraente e estranho, que alguém pudesse viver vendendo esses objetos tão insignificantes. Mais que isso, me perguntava como poderiam existir indústrias empenhadas na produção desses objetos. O terceiro camelô vendia marionetes de papel e borracha, que ele manipulava com uma linha no braço. Eu achava aquilo mágico. Em 1995, decidi juntar essas três imagens, que resultaram no Camelô. Para ele, criei a palavra humiliminimalismo, o minimalismo do muito humilde, da quase insignificância física.

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