terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Anna Bella Geiger

Sobre a Arte, 1976
26 x 19 cm, xerox. Rio de Janeiro. Tiragem: 100 ex.

O Novo Atlas I, 1977

No “Novo Atlas nº 1” de 1977 Anna Bella Geiger dedica a este espaço um segundo mapa mundi, em que traça os limites e a esfera de referência da arte dentro dos quais a / o artista e sua obra têm que se situar, sobretudo se ele ou ela vivem no Brasil.

Nessas relações e alusões, espelham-se representações do mundo e concepções de arte que, assim como os mapas, também produzem uma realidade, na medida em que o representam. Anna Bella Geiger reúne em linhas datilografadas diversos topoi sobre arte, às vezes legíveis, outras vezes encobertos pelas formas de continentes ou obscurecidos por superposições parciais de letras e grupos de palavras. Esses topoi determinam os parâmetros de sua percepção, na medida em que funcionam como asserções paradigmáticas sobre a relação entre as supostas orientações dominadas e marginais, estilos internacionais e nacionais ou sobre a distinção entre centros e periferias, províncias e metrópoles, recepções, heranças, tradições, influências e esferas de validade, dependências e espaços livres.

A pseudo-objetividade da cartografia, que em sua representação criteriosa estabelece critérios, é desmascarada nos quatro mapas mundi subseqüentes do “Novo Atlas I”. A imagem do mundo aparece determinada por diferentes indicadores: na trama do quadriculado regular do espaço, como divisão das reservas de petróleo, na relação entre regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas e na dependência da primazia cultural da Cultura Ocidental. O confronto de diversos sistemas de orientação deixa claro que orientação, como a própria língua denuncia, tem sempre uma direção determinada, que estabelece a imagem da realidade, na medida em que se torna a perspectiva da percepção. No mapa a realidade aparece como relação ou atitude e, deste modo, relativa às diversas relações que se estabelecem. Assim como a suposta neutralidade do mapa é pura ficção, sua representação espacial não passa de uma projeção. A realidade deixa de aparecer como ilusão, passando a ser fingimento, simulação.

As outras seqüências do “Novo Atlas I e II” e outras obras-padrão, seguem o modelo do abecedário, em que o cruzamento de textos, mapas, quadros, imagens são construídas e reunidas sob o titulo comum de “Iniciações Primárias”. A fabricação de ficções baseia-se em processos de seleção e identificação em que se transmitem e desenvolvem identidades. As leis desta fabricação são analisadas pela artista desde o começo dos anos 60, em sua discussão com o abstracionismo geométrico e informal, sobretudo no trabalho que realizou no Atelier do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de que é um dos representantes mais proeminentes. A passagem da mancha amorfa e anônima para o contorno novamente reconhecível de um determinado continente, como mostra a estampa borrada do “Novo Atlas I”, é um jogo com os esquemas de percepção, que desdobra seu potencial no âmbito de um determinado contexto, através da transformação, metamorfose e alteração.
Karin Von Stempel
Tradução: Luciana Vilas Boas


(imagens do livro de Martha Hellion, Libros de Artista. Turner, 2001)


2 comentários:

Laura Cohen disse...

nossa, apaixonei nesses. lindos.

amir brito cadôr disse...

oi Laura,

eu também acho lindos.
[s]