quinta-feira, 5 de março de 2009

Carmela Gross







Os carimbos de Carmela - Walter Zanini 1/1/1978


As perspectivas abertas para uma investigação nos limites entre o signo e a escritura caracterizam agora a atividade de Carmela Gross, sobrepondo-se às consecutivas e interdependentes fases anteriores marcadas por um apurado espírito construtivo. Essa obra passada desenvolvera-se numa atmosfera ascética - quase impertubada pela necessidade da comunicação - variantes morfológicas que ressaltavam a tendência constante ao estudo do espaço por um ajuste de soluções gráficas e texturalidades. Embora o rigor esquemático das organizações geométricas então obtidas, a desenhista infiltrava valores menos determinados, que são específicos, da sensibilidade, fazendo surgir exíguas mutabilidades nas suas séries de representações sincrônicas. Dessa pesquisa precedente transfere-se para o atual estado o elemento fundamental da repetição da imagem. A situação é, entretanto, drasticamente diferenciada pela natureza e função dos novos agentes frequentadores de seu espaço: sinais gráficos idênticos e alinhavados na forma de campos unitários de leitura. Estes signos são previamente desenhados para reprodução através do carimbo - um dos média (ou submédia) de mais rápida expansão na área de criatividade oposta à arte institucionalizada. Normalmente manipulado para fins burocráticos, a autora serve-se de sua praxis - a automatização do gesto - para a definição da uniformidade da leitura sígnica. Dentro das muitas alternativas mudialmente exploradas pelas poéticas semióticas, nota-se que Carmela Gross obedece antes de mais nada a uma problemática própria derivada de sua densa e continua reflexão das qualidades imanentes do desenho. É atualmente alguém que se envolve profundamente no comportamento da arte como linguagem e que, operando no plano dos multimedia, vale-se não apenas de amplos espaços de papel, onde respira a sua ideografia (para ser vista na forma de uma frisa), mas ainda utiliza a veiculação da mensagem pelo caderno. É verossímel que o VT, onde tem realizado experiências, será uma outra extensão de seu processo. A sensibilização estética que denota nos caracteres homológicos de significantes/significados de seus carimbos pode despertar ricas reações de descoberta na disponibilidade mental do receptor.


ZANINI, Walter. Os carimbos de Carmela. Folha de S. Paulo, São Paulo, 09 de julho de 1978. (disponível no site da artista).


Nenhum comentário: